Disciplina | Por que eu corro? #2

Daniel Andrade
3 min readMay 18, 2022
Image: Unsplash

Hoje acordei às 5h10 para ir correr.

Saí de casa às 5h50, quando estava marcando 7ºC de temperatura. Esqueci gorro e luvas.

Na hora que comecei a correr, estava um vento bem forte. Pensei na pergunta que é o título desta série, e não consegui chegar em resposta alguma. Só pensava que não tinha nada que justificasse a ideia genial de sair antes das 6h da manhã para correr no frio, em um treino intervalado que me deixaria provavelmente sem ar e com as pernas doloridas no dia seguinte.

Corri até a esquina e pensei em voltar para casa (quem nunca?), mas me convenci a continuar e ver se a própria corrida ajudava a espantar o frio. Essa hipótese só funcionou mais ou menos, porque o vento no Ibirapuera parecia mais forte que na rua, o que fazia a respiração durante a corrida ser um desafio a parte. Sem luvas, meus dedos ficaram insensíveis em pouco tempo.

Fiz o treino inteiro e, no final, já estava me sentindo melhor (um pouco porque tinha Sol, e um pouco porque eu quase não sentia mais as mãos e pés). Em direção à saída do parque, já na fase do desaquecimento pós-tiros, voltei a pensar nos motivos para correr, e minha conclusão foi que hoje a corrida foi um fim em si mesma.

Não é a primeira vez que treino no frio ou que preciso me convencer a treinar. Repetidas vezes, em todos os esportes que já pratiquei, inevitavelmente eu tive fases que não queria mais treinar, ou que estava frio, ou que estava com dor, ou seja lá o que for que pudesse ser uma desculpa para não aparecer. Nestas ocasiões, algumas vezes realmente não treinei, mas na maioria esmagadora das vezes, sim.

O esporte me condicionou, desde criança, a ter disciplina. Hoje, adulto, a corrida faz a mesma coisa. Ninguém quer sair da cama no frio para correr (nem para nada). Mas sair mesmo assim mostra que não fazemos só aquilo que queremos, mas que temos disciplina para honrar nossos compromissos. Isso vale para a corrida, vale para outros esportes, vale para o trabalho e para qualquer coisa com que nos comprometemos.

Além disso, a disciplina faz com que eventuais escapadas não sejam um problema. Treinar com consistência semana após semana, mês após mês e não ir um dia porque estava com preguiça é muito diferente do que ser consistentemente preguiçoso. Todos temos dias ruins. O importante é trabalharmos para que tenhamos uma maioria de dias bons, e não cair em desânimo quando a motivação faltar — por isso, uma ideia que gosto muito é que a consistência é mais importante que a motivação.

No trabalho, não é tão diferente. Em toda profissão existem as partes boas e as ruins, as tarefas chatas que ninguém gosta de fazer e que gostaríamos de evitar. A disciplina de fazer o melhor possível todos os dias e de quebrar os problemas em problemas menores, resolvendo um por um, é o que faz a diferença. A consistência nas entregas é diretamente ligada à disciplina, e para mim este é um grande aprendizado que tenho no esporte.

Na hora de sair do parque, o Sol já estava aparecendo e a imagem do Ibirapuera logo cedo se somava à sensação boa de “dever cumprido”. O termômetro ainda marcava 8ºC, mas a justificativa para sair tão cedo para ir correr já tinha aparecido.

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