Pace — um aprendizado | Por que eu corro? #3

Daniel Andrade
3 min readMay 24, 2022

Uma explicação rápida:

O pace é a medida usada para calcular a velocidade em que o atleta corre, e normalmente é medido em minutos por quilômetro (min/km). Assim, se o corredor percorre 10km em uma hora, não dizemos que ele corre “a 10km/h”, mas sim que seu pace é 6 min/km, e quanto mais baixo o pace, maior a velocidade do atleta.

O pace não só é usado para medir o ritmo médio da corrida, mas também é uma variável de intensidade para o treinamento.

Image: Unsplash

Um dos maiores aprendizados que tenho com a corrida de longa distância é sobre manter o ritmo — o pace, como chamamos.

A corrida deve estar entre um dos movimentos mais naturais do ser humano. Desde criança, as brincadeiras em geral envolvem corrida, normalmente em distâncias curtas. Quando começamos a correr, é normal fazer o que nos condicionamos desde sempre e sair em carreira, só para parar depois de 300 metros, sem fôlego e se perguntando onde foi parar o ar do mundo.

É natural associar “correr” a “chegar rápido”.

Conforme insistimos no treinamento, começamos a colocar metas de distância. O mais comum é começar com uma meta de terminar uma corrida de 10km, depois uma meia-maratona (21km) e, para quem gosta do desafio, uma maratona (42km). Metas além disso chegam a um grau de insanidade que eu (ainda) não consigo alcançar, mas o ponto é que passamos a focar mais em chegar longe do que em chegar rápido.

Depois que conseguimos atingir as distâncias, a preocupação com velocidade volta. Queremos cumprir a distância em um tempo menor, bater uma marca e provar que podemos nos superar, só que aí já aprendemos a administrar o pace.

Administrar o pace passa não só por seguir os números em uma planilha ou estratégia de prova, mas também por conhecer a si mesmo o suficiente para entender se aquela estratégia faz sentido para a distância que queremos percorrer. Tem gente que gosta de começar mais lento e “guardar” para o final. Tem gente que prefere fazer intervalos durante a corrida. Pessoalmente, eu prefiro manter um ritmo mais ou menos constante do começo até o fim, com a chance de aumentar um pouco a velocidade no final.

Independente de diferenças de estratégia, o incomum é já sair correndo em um ritmo forte desde a largada. A tendência é “quebrar”, ou seja, não conseguir chegar no final e, em vez da satisfação no final de um treino ou corrida bem feita, só restar a frustração de não ter cumprido o objetivo inicial. Raramente alguém que fixa metas de tempo chega no final de uma corrida de longa distância “sobrando” e achando que poderia ter ido muito melhor. Por outro lado, muitos que começam forte demais quebram.

A frustração de não bater a meta de tempo é muito menor do que a frustração de quebrar.

Para mim, a corrida longa consiste em encontrar um pace que seja no limite do desconforto (não gosto de ficar confortável demais) e tentar manter mais ou menos o mesmo ritmo por todo o percurso. O pace instantâneo, para mim, diz pouco. O pace médio, diz muito.

E por que este é um dos maiores aprendizados da corrida, para mim?

Não é difícil traçar o paralelo com nosso dia-a-dia. A vida está mais para uma maratona do que para uma corrida de 100 metros. No trabalho, é melhor encontrar um pace que encaixe e possa ser sustentado a longo prazo do que começar em um ritmo insano e ter um burnout em poucos anos.

Administrar o pace significa descobrir a melhor estratégia para nós, montar um plano — sabendo que no caminho serão necessárias adaptações -, começar a corrida e fazer com que o ritmo seja sustentável, mas não confortável demais. O desconforto também nos mantém atentos, evita a acomodação e faz com que aos poucos possamos empurrar os limites cada vez mais longe.

--

--